27.11.03
pequeno imperador
Há um déspota autocrata imperador adolescente
que se bate irreverente
na defesa do seu fugaz reino de mim.
Há uma força de tempo, invasora,
agressora do dúbio, apaziguadora,
que lenta alenta a mente impotente
perante os destroços de intersecções
que pretéritas remanescem depredadas.
E o sanguíneo campo de batalha sou eu.
E quem lhes carrega as armas sou eu.
E o saque dos saques é quem? - pois quem senão eu;
assistindo disperso por entre monumentos
e recém-nados escombros
às batalhas em elos consecutivos
prendidos nas correntes dos sonhos.
que se bate irreverente
na defesa do seu fugaz reino de mim.
Há uma força de tempo, invasora,
agressora do dúbio, apaziguadora,
que lenta alenta a mente impotente
perante os destroços de intersecções
que pretéritas remanescem depredadas.
E o sanguíneo campo de batalha sou eu.
E quem lhes carrega as armas sou eu.
E o saque dos saques é quem? - pois quem senão eu;
assistindo disperso por entre monumentos
e recém-nados escombros
às batalhas em elos consecutivos
prendidos nas correntes dos sonhos.
24.11.03
Ashram
Ergo-me elevado num lamento conformado de violoncelo e sinto o frio que entremeia a pele da minha carne. Cego perante o pecado caminho em direcção à pia baptismal de todos os despertares, por mais luz acção de graças, purificação, catarse. Fluidos líquidos gasosos em brasa gelados em confluência em mim, e o frio que não se desinstala do vazio que por dentro me recobre. Momentos de franqueza insofismável de automatismo incorrupto - geração espontânea de imagens orgânicas virtuais - declaração de ausência - o silêncio.
Caiu deus empurrado pelo filho do homem que o ergueu, e com ele levou o absoluto. Ficou a realidade aos pedaços, autónomos e escondidos nas estantes mais altas por detrás de pilhas de jornais manchados de verdete carregados de estática.
Ashram espera pacientemente pela morte que se atrasa sentado no chão cor de caril sob um pára-sol de alcatrão. Perscruta-se pelos motivos da demora da senhora vestida de luz sem estar ainda apto a sentir a sua presença, a seu lado sentada, amparando-lhe a cabeça e afagando-lhe o cabelo. Falta ainda tempo para que Ashram seja capaz de a descobrir: falta o tempo que gera compreensão, o tempo que mata a vontade de morrer. Quando este chegar - o momento - em que o terceiro olho se abre na fronte e alberga na sua visão toda a plenitude - em que a resignação chega na forma de um vazio que tudo preenche - Ashram levantar-se-á deixando a sua sombra por baixo de um casulo de cinzas, e verá a sua senhora morte, e envolvendo-a em seus braços beijá-la-á na língua, e com a sua mão na dela atravessarão o rio deixando para trás para sempre para os outros o esgoto o corpo e as questões.
- Vês aquela cidade no cume das montanhas? - perguntou a Fada Verde a Daemon. É lá que se vendem os invólucros selados herméticos para conservar o sentimento. Podes considerar garantida a sua existência por uma eternidade nunca inferior a dois mil anos. Imagina celulóide morta por asfixia num banho de luz catalizado a prata - é semelhante... È certo e eficaz. O preço? Uma bagatela. Dá-lhes o coração. Eles tratarão de encontrar qualquer cinzento pastoso processo que o substitua. E se o coração for grande vais ver que ganhas um caralho. Nada é melhor que qualquer coisa.
- Mas eu quero tudo - respondeu aquele - tudo o que permita deixar cair esta outra face que trago na nuca que me exibe a todo o instante o carrasco de mim mesmo que atentamente me vigia. Procuro o amor - não o eterno - antes o perecível na guilhotina da imperfeição - o vivo até depois de morrer.
Enxuto depois do banho visto o meu quimono de arame farpado e saio para a rua, para me lavar na chuva.
Caiu deus empurrado pelo filho do homem que o ergueu, e com ele levou o absoluto. Ficou a realidade aos pedaços, autónomos e escondidos nas estantes mais altas por detrás de pilhas de jornais manchados de verdete carregados de estática.
Ashram espera pacientemente pela morte que se atrasa sentado no chão cor de caril sob um pára-sol de alcatrão. Perscruta-se pelos motivos da demora da senhora vestida de luz sem estar ainda apto a sentir a sua presença, a seu lado sentada, amparando-lhe a cabeça e afagando-lhe o cabelo. Falta ainda tempo para que Ashram seja capaz de a descobrir: falta o tempo que gera compreensão, o tempo que mata a vontade de morrer. Quando este chegar - o momento - em que o terceiro olho se abre na fronte e alberga na sua visão toda a plenitude - em que a resignação chega na forma de um vazio que tudo preenche - Ashram levantar-se-á deixando a sua sombra por baixo de um casulo de cinzas, e verá a sua senhora morte, e envolvendo-a em seus braços beijá-la-á na língua, e com a sua mão na dela atravessarão o rio deixando para trás para sempre para os outros o esgoto o corpo e as questões.
- Vês aquela cidade no cume das montanhas? - perguntou a Fada Verde a Daemon. É lá que se vendem os invólucros selados herméticos para conservar o sentimento. Podes considerar garantida a sua existência por uma eternidade nunca inferior a dois mil anos. Imagina celulóide morta por asfixia num banho de luz catalizado a prata - é semelhante... È certo e eficaz. O preço? Uma bagatela. Dá-lhes o coração. Eles tratarão de encontrar qualquer cinzento pastoso processo que o substitua. E se o coração for grande vais ver que ganhas um caralho. Nada é melhor que qualquer coisa.
- Mas eu quero tudo - respondeu aquele - tudo o que permita deixar cair esta outra face que trago na nuca que me exibe a todo o instante o carrasco de mim mesmo que atentamente me vigia. Procuro o amor - não o eterno - antes o perecível na guilhotina da imperfeição - o vivo até depois de morrer.
Enxuto depois do banho visto o meu quimono de arame farpado e saio para a rua, para me lavar na chuva.
21.11.03
semana da fotografia
20.11.03
semana da fotografia
19.11.03
semana da fotografia
18.11.03
semana da fotografia
17.11.03
semana da fotografia
14.11.03
semana da música
into the void
tried to save myself but myself keeps slipping away
talking to myself all the way to the train station
pictures in my head of the final destination
all lined up
(all the ones that aren’t allowed to stay)
tried to save myself but myself keeps slipping away
tried to save a place from the cuts and the scratches
tried to overcome the complications and the catches
nothing ever grows and the sun doesn’t shine all day
tried to save myself but myself keeps sleeping away
tried to save myself but myself keeps sleeping away
- Nine Inch Nails (The Fragile)
tried to save myself but myself keeps slipping away
talking to myself all the way to the train station
pictures in my head of the final destination
all lined up
(all the ones that aren’t allowed to stay)
tried to save myself but myself keeps slipping away
tried to save a place from the cuts and the scratches
tried to overcome the complications and the catches
nothing ever grows and the sun doesn’t shine all day
tried to save myself but myself keeps sleeping away
tried to save myself but myself keeps sleeping away
- Nine Inch Nails (The Fragile)
13.11.03
semana da música
Want
I want to know how it will end. I want to be sure of what it will cost. I want to strangle the stars for all they promised me. I want you to call me on your drug phone. I want to keep you alive so there is always the possibility of murder later. I want to be there when you learn the cost of desire. I want you to understand that my malevolence is just a way to win. I want the name of the ruiner. I want matches in case I have to suddenly burn. I want you to know that being kind is overrated. I want you to write my secret across your sky. I want you to watch you lose control. I want to watch you loose. I want to know exactly what it’s going to take. I want to see you insert yourself into glory. I want your touches to scar me so I’ll know were you’ve been. I want you to watch when I go down in flames. I want a list of atrocities done in your name. I want to reach my hand into the dark and feel what reaches back. I want to remember when my nightmares were clearer. I want to be there when your hot black rage rips wide open. I want to taste my own kind. I want to be wrapped in cold wet sheets to see if it’s different on the other side. I want you to come on strong. I want to leave you out in the cold. I want the exact same thing but different. I want some soft drugs… some soft soft drugs. I want to throw you. I want you to know I know. I want to know if you read me. I want to swing with my eyes shut and see what I hit. I want to know just how much you hate me so I can predict what you’ll do. I want you to know the wounds are self-inflicted. I want a controlling interest. I want to be somewhere beautiful when I die. I want to be your secret hater. I want to stop destroying you but I can’t. And I want and I want and I want and I will always be hungry. And I want and I want and I want.
- Recoil (Liquid)
I want to know how it will end. I want to be sure of what it will cost. I want to strangle the stars for all they promised me. I want you to call me on your drug phone. I want to keep you alive so there is always the possibility of murder later. I want to be there when you learn the cost of desire. I want you to understand that my malevolence is just a way to win. I want the name of the ruiner. I want matches in case I have to suddenly burn. I want you to know that being kind is overrated. I want you to write my secret across your sky. I want you to watch you lose control. I want to watch you loose. I want to know exactly what it’s going to take. I want to see you insert yourself into glory. I want your touches to scar me so I’ll know were you’ve been. I want you to watch when I go down in flames. I want a list of atrocities done in your name. I want to reach my hand into the dark and feel what reaches back. I want to remember when my nightmares were clearer. I want to be there when your hot black rage rips wide open. I want to taste my own kind. I want to be wrapped in cold wet sheets to see if it’s different on the other side. I want you to come on strong. I want to leave you out in the cold. I want the exact same thing but different. I want some soft drugs… some soft soft drugs. I want to throw you. I want you to know I know. I want to know if you read me. I want to swing with my eyes shut and see what I hit. I want to know just how much you hate me so I can predict what you’ll do. I want you to know the wounds are self-inflicted. I want a controlling interest. I want to be somewhere beautiful when I die. I want to be your secret hater. I want to stop destroying you but I can’t. And I want and I want and I want and I will always be hungry. And I want and I want and I want.
- Recoil (Liquid)
12.11.03
semana da música
Alice
It's dreamy weather we're on You wave your crooked wand Along an icy pond With a frozen moon A murder of silhouette crows i saw... And the tears on my face And the skates on the pond they spell Alice I'll disappear in your name But you must wait for me Somewhere beneath the sea There's the wreck of a ship Your hair is like meadow grass On the tide And the raindrops on my window And the ice in my drink Baby, all that i can think of is Alice Arithmetic Arithmetok I turn the hands back on the clock How does the ocean rock the boat How did the razor find my throat The only strings that hold me here Are tangled up around the pier And so a secret kiss Brings madness with the bliss And i will think of this When i'm dead in my grave Set me adrift and i'm lost over there But i must be insane To go skating on your name And by tracing it twice I fell through the ice Of Alice There's only Alice
- Tom Waits (Alice)
It's dreamy weather we're on You wave your crooked wand Along an icy pond With a frozen moon A murder of silhouette crows i saw... And the tears on my face And the skates on the pond they spell Alice I'll disappear in your name But you must wait for me Somewhere beneath the sea There's the wreck of a ship Your hair is like meadow grass On the tide And the raindrops on my window And the ice in my drink Baby, all that i can think of is Alice Arithmetic Arithmetok I turn the hands back on the clock How does the ocean rock the boat How did the razor find my throat The only strings that hold me here Are tangled up around the pier And so a secret kiss Brings madness with the bliss And i will think of this When i'm dead in my grave Set me adrift and i'm lost over there But i must be insane To go skating on your name And by tracing it twice I fell through the ice Of Alice There's only Alice
- Tom Waits (Alice)
11.11.03
semana da música
Centrifugitives
Handicaps are cool
If you learn how to exploit them
A dedicated fool
Is always better than a shrink
You’re drowning in my pool
I know I’ll meet you at the bottom
Cause all unwritten rules
Lead the water to the mule
I can stand it but we planned it
Like a prepaid distortion
When we canned it overmanned it
We collided our dust broom
We’re only centrifugitives
Undermining categories
We’re only big minorities
Moving targets suddenly freeze
Another dog named after me
Centrifugitive don’t insist on me to chase you
Solitary myth born infused by liquid looks
I’m high on primitive but undecifrable complexions
These coroners of luck drove me to your tender trash
I can stand it but we planned it
Like a prepaid distortion
When we canned it overmanned it
We collided our dust broom
We’re only centrifugitives
Undermining categories
We’re only big minorities
Moving targets suddenly freeze
Another dog named after me
- Dead Man Ray (CAGO)
Handicaps are cool
If you learn how to exploit them
A dedicated fool
Is always better than a shrink
You’re drowning in my pool
I know I’ll meet you at the bottom
Cause all unwritten rules
Lead the water to the mule
I can stand it but we planned it
Like a prepaid distortion
When we canned it overmanned it
We collided our dust broom
We’re only centrifugitives
Undermining categories
We’re only big minorities
Moving targets suddenly freeze
Another dog named after me
Centrifugitive don’t insist on me to chase you
Solitary myth born infused by liquid looks
I’m high on primitive but undecifrable complexions
These coroners of luck drove me to your tender trash
I can stand it but we planned it
Like a prepaid distortion
When we canned it overmanned it
We collided our dust broom
We’re only centrifugitives
Undermining categories
We’re only big minorities
Moving targets suddenly freeze
Another dog named after me
- Dead Man Ray (CAGO)
10.11.03
semana da música
Map to the Stars
I think it's time
to go
letting the mind
flow
hold my breath
another year
wake up inside a grand piano
but i'm still such a kid
wake up inside a grand
sunblock-window room
well it's all a lot of horseshit
and no blue
pearls
no blue pearls
i need a map to the stars tonight
i need a map to the stars tonight
they can afford
new blood
choice of the high-profile user
but i'm still such a kid
where's the jump in fountain
where's the backstroke in whipcream
where's the method in madness
where's the loved one in blankets
where's the white powder working
where's the beachweekend suntan
where's the hyperspace button
where's the kiss on the earlobe
well it's all a lot of horseshit
and no blue
pearls
no blue pearls
i need a map to the stars tonight
i need a map to the stars tonight
wake up inside a grand piano
- Mitsoobishi Jacson (Boys Together Outrageously)
I think it's time
to go
letting the mind
flow
hold my breath
another year
wake up inside a grand piano
but i'm still such a kid
wake up inside a grand
sunblock-window room
well it's all a lot of horseshit
and no blue
pearls
no blue pearls
i need a map to the stars tonight
i need a map to the stars tonight
they can afford
new blood
choice of the high-profile user
but i'm still such a kid
where's the jump in fountain
where's the backstroke in whipcream
where's the method in madness
where's the loved one in blankets
where's the white powder working
where's the beachweekend suntan
where's the hyperspace button
where's the kiss on the earlobe
well it's all a lot of horseshit
and no blue
pearls
no blue pearls
i need a map to the stars tonight
i need a map to the stars tonight
wake up inside a grand piano
- Mitsoobishi Jacson (Boys Together Outrageously)
7.11.03
Estou a olhar para as raízes pretas do cabelo dela, de um amarelo doentio, que parece palha engordurada, completamente estragado por tantas pinturas baratas. Uma galdéria cheia de café, cigarros e valiuns. Há uma fábrica algures que não pára de as fabricar. É só virar à esquerda para os arrabaldes do Boulevard dos Sonhos Desfeitos.
- Irvine Welsh
- Irvine Welsh
6.11.03
O relâmpago insolente,
traço tremido,
risca a abóbada negra outrora azul,
arrastando o céptico a cuidar
aquilo que não crera.
O trovão solene,
percutido sem tempo nem compasso,
ecoa dentro da estrutura, abalando o peito,
embargando a respiração.
A chuva meiga que depois cai lava todas as lágrimas,
e o sol redentor que retraído rasga a tela
dá à luz um novo amor.
No dia em que o anti-ciclone deu à costa.
traço tremido,
risca a abóbada negra outrora azul,
arrastando o céptico a cuidar
aquilo que não crera.
O trovão solene,
percutido sem tempo nem compasso,
ecoa dentro da estrutura, abalando o peito,
embargando a respiração.
A chuva meiga que depois cai lava todas as lágrimas,
e o sol redentor que retraído rasga a tela
dá à luz um novo amor.
No dia em que o anti-ciclone deu à costa.
4.11.03
"Somebody at one of these places asked me: "What do you do? How do you write, create?" You don't, I told them. You don't try. That's very important: not to try, either for Cadillacs, creation or immortality. You wait, and if nothing happens, you wait some more. It's like a bug high on the wall. You wait for it to come to you. When it gets close enough you reach out, slap out and kill it. Or if you like it's looks, you make a pet out of it."
- Charles Bukowski
- Charles Bukowski
2.11.03
Um homem define-se por aquilo que não é. E aquilo que eu não sou, sois todos vós: o que sobra do Homem sem mim. Daí a vossa grandeza.
1.11.03
Shhhhhhhhhh!
Estou sozinho...
FAÇAM SILÊNCIO,
se fazem favor!
Deixem-me ser sozinho. Aqui. No escuro.
ONDE ESTAIS?
Não vos vejo. Não vos sinto.
FAÇAM SILÊNCIO, NÃO TORNO A REPETIR!
Deixem-me ouvir-vos.
Deixem-me ouvir-vos para que vos possa encontrar.
Mas onde estou eu?
Não há som, não há luz.
Não me encontro.
NÃO ME ENCONTRO.
SI - LÊN - CIÔ !!!
DEIXEM-ME OUVIR-VOS,
para que vos encontre,
para que me possa encontrar.
<DIÁRIOS >
Estou sozinho...
FAÇAM SILÊNCIO,
se fazem favor!
Deixem-me ser sozinho. Aqui. No escuro.
ONDE ESTAIS?
Não vos vejo. Não vos sinto.
FAÇAM SILÊNCIO, NÃO TORNO A REPETIR!
Deixem-me ouvir-vos.
Deixem-me ouvir-vos para que vos possa encontrar.
Mas onde estou eu?
Não há som, não há luz.
Não me encontro.
NÃO ME ENCONTRO.
SI - LÊN - CIÔ !!!
DEIXEM-ME OUVIR-VOS,
para que vos encontre,
para que me possa encontrar.