30.11.04
Moral abreviada
Uma nuca de loura e de graça inclinada,
Um colo que arrulha, belos, lascivos seios,
Com medalhões escuros na mama afogueada,
Esse busto se assenta em baixas almofadas
Enquanto entre duas pernas para o ar, vibrantes,
Uma mulher se ajoelha - ocupada com quê?
Amor o sabe - expondo aos deuses a epopéia
Singela de seu cu magnífico, um espelho
Límpido da beleza, que ali quer se ver
Pra crer. Cu feminino, que vence o viril
Serenamente - o de efebo e o infantil.
Ao cu feminino, supremo, culto e glória.
- Paul Verlaine
Femme - © Pablo Picasso
Um colo que arrulha, belos, lascivos seios,
Com medalhões escuros na mama afogueada,
Esse busto se assenta em baixas almofadas
Enquanto entre duas pernas para o ar, vibrantes,
Uma mulher se ajoelha - ocupada com quê?
Amor o sabe - expondo aos deuses a epopéia
Singela de seu cu magnífico, um espelho
Límpido da beleza, que ali quer se ver
Pra crer. Cu feminino, que vence o viril
Serenamente - o de efebo e o infantil.
Ao cu feminino, supremo, culto e glória.
- Paul Verlaine
Femme - © Pablo Picasso
23.11.04
Eros
Nunca o verão se demorara
assim nos lábios
e na água
- como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes?
- Eugénio de Andrade
assim nos lábios
e na água
- como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes?
- Eugénio de Andrade
19.11.04
Summer, 1896 - © Alphonse Mucha
9.11.04
na esperança dos teus olhos
Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente nas solidões de minha espera
E tu eras, coisa linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera
Vinhas cheia de alegria, coroada de grinaldas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, coisa linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto
Pelas rútilas ameias do teu sorriso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
E eu te juro, coisa linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, coisa linda, dar te muitas coisas lindas....
- Vinicius de Moraes
<DIÁRIOS >
Penetrando lentamente nas solidões de minha espera
E tu eras, coisa linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera
Vinhas cheia de alegria, coroada de grinaldas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, coisa linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto
Pelas rútilas ameias do teu sorriso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
E eu te juro, coisa linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, coisa linda, dar te muitas coisas lindas....
- Vinicius de Moraes