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21.2.07























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Da série Desire, 1990-1991 - © David Levinthal

18.1.07

Com a tua letra 

Porque eu amo-te, quer dizer, estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.

Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra

- Fernando Assis Pacheco

18.5.06



Seduction, data desconhecida - © Daniel Merriam

16.5.06

may i feel said he 

may i feel said he
(i'll squeal said she
just once said he)
it's fun said she

(may i touch said he
how much said she
a lot said he)

why not said she
(let's go said he
not too far said she
what's too far said he
where you are said she)

may i stay said he
(which way said she
like this said he
if you kiss said she

may i move said he
is it love said she)
if you're willing said he
(but you're killing said she

but it's life said he
but your wife said she
now said he)
ow said she

(tiptop said he
don't stop said she
oh no said he)
go slow said she

(cccome?said he
ummm said she)
you're divine!said he
(you are Mine said she)

- ee cummings

17.1.05


Le Baiser, 1886 - © Auguste Rodin

12.1.05

Há palavras que nos beijam  

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

- Alexandre O'Neill

11.1.05


título e data desconhecidos - © Guy Bourdin

10.1.05

Um jeito 

Meu amor é assim, sem nenhum pudor.
Quando aperta eu grito da janela
- ouve quem estiver passando -
ô fulano, vem depressa.
Tem urgência, medo de encanto quebrado,
é duro como osso duro.
Ideal eu tenho de amar como quem diz coisas:
quero é dormir com você, alisar seu cabelo,
espremer de suas costas as montanhas pequenininhas
de matéria branca. Por hora dou é grito e susto.
Pouca gente gosta

- Adélia Prado

28.12.04


Shoe, 1983 - © Helmut Newton

20.12.04

Amo o teu túmido candor de astro 

a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança de um peito
que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto

- António Ramos Rosa

16.12.04


A L'Heure de L'Observatoire - Les Amoureux, 1935 - © Man Ray

10.12.04

O AMOR EM VISITA excerto  

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Corre em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde estará o mar? Aves bêbadas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E eu peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Ó amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas como uma espuma
de crepúsculos e crateras.
Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

- Herberto Hélder




Danae, 1907-08 - © Gustav Klimt

30.11.04

Moral abreviada  

Uma nuca de loura e de graça inclinada,
Um colo que arrulha, belos, lascivos seios,
Com medalhões escuros na mama afogueada,
Esse busto se assenta em baixas almofadas
Enquanto entre duas pernas para o ar, vibrantes,
Uma mulher se ajoelha - ocupada com quê?
Amor o sabe - expondo aos deuses a epopéia
Singela de seu cu magnífico, um espelho
Límpido da beleza, que ali quer se ver
Pra crer. Cu feminino, que vence o viril
Serenamente - o de efebo e o infantil.
Ao cu feminino, supremo, culto e glória.

- Paul Verlaine



Femme - © Pablo Picasso

23.11.04

Eros 

Nunca o verão se demorara
assim nos lábios
e na água
- como podíamos morrer,
tão próximos
e nus e inocentes?

- Eugénio de Andrade

19.11.04


Summer, 1896 - © Alphonse Mucha

9.11.04

na esperança dos teus olhos 

Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente nas solidões de minha espera
E tu eras, coisa linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera
Vinhas cheia de alegria, coroada de grinaldas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, coisa linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto
Pelas rútilas ameias do teu sorriso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
E eu te juro, coisa linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, coisa linda, dar te muitas coisas lindas....

- Vinicius de Moraes

26.10.04


Embrace (Lovers II), 1917 - © Egon Schiele

20.10.04

Dia após dia, o tribunal dos meus sentimentos exprime condenação perpétua à’mar-te.

Conduz-me pois à faustosa cela do teu coração e encerra-me para sempre aninhado no teu colo onde nasci.

Recuso as liberdades condicionais e as saídas precárias.

Quero o que me pertence que é pertencer-te e perceber-te assim, enamorada de mim.

Quero a tua presença constante no parlatório privado do meu subconsciente, quero estar ciente que és tu a cárcere feliz onde sempre sonhei um dia ser livre.

11.10.04


The Lovers (I), 1928 - © Rene Magritte


14.9.04

o vinho dos amantes 

no espaço esplêndido de agora
sem freio nem esporas
montemos à rédea solta o daimon do vinho
para um céu feérico e divino
como dois anjos torturados
por um implacável delírio em fúria
corramos atrás da miragem do destino
baloiçando docemente sobre a asa
do turbilhão inteligente
num delírio partilhado
irmão e irmã nadando lado a lado
fugiremos sem pausa nem repouso
para o sonhado paraíso que nos chama.

- traduzido por Maria Gabriela Llansol, Charles Baudelaire

13.9.04


título desconhecido, 1972 - © Christian Vogt










Birth of Eve, 1996 - © Jeanloup Sieff





7.9.04

Porque 


título e data desconhecidos - © Vee Speers



Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mão dada com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

- Sophia de Mello Breyner Andresen


Siege, data desconhecida - © Misha Gordin


Movimiento, data desconhecida - © Don Gregório Antón

6.9.04


Nude, 1927 - © Edward Weston negativo, Cole Weston impressão

25.6.04


título desconhecido, 1963 - © Lee Friedlander

2.6.04


título e data desconhecidos - © NOLY




Milky cybersampler, data desconhecida - © alex laengauer


31.5.04

Mulheres de Atenas 

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas

- Chico Buarque-Augusto Boal, 1976

1.5.04


título e data desconhecidos- © stephane fugier

30.4.04


título e data desconhecidos- © stephane fugier


título e data desconhecidos- © stephane fugier


título e data desconhecidos- © stephane fugier

20.4.04


Quetschung 105/5-8, 1992 - © Wolfgang Pietrzok


The Black Cape, data desconhecida - © Jan Saudek

5.4.04

05.04.2004 - 13.04.2004: férias por festas de morte e ressureição.
Pães de azeite e ovos recheados de carnes gordas e enchidos vários.
A minha ausência por conta do espirito santo de orelha de porco com feijão.
Tempo privilegiado para a heresía.
Em breve regressarei a esta terra de cadáveres.

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